Hoje trago-vos o que, em
tempos, foi um refúgio para Jacqueline Kennedy, logo após o assassinato do seu
marido, na altura Presidente dos EUA, John Kennedy (1963). O Palácio da
Comenda, localizado na Serra da Arrábida, encontra-se no topo de um monte, com uma
vista deslumbrante para o Rio Sado. O edifício, que anteriormente pertenceu ao
Conde D’Armand, deparou-se com o abandono em 2009, ano em que o seu
proprietário António Xavier de Lima faleceu.
Estima-se que o Palácio é
originário do século XVIII, tendo sido residência da mais alta Realeza
Europeia, derivado não apenas à sua localização, mas também às características
naturais do espaço envolvente. Em 1848 foi adquirido por D. Maria, Rainha de
Portugal. Mais tarde, a 9 de Março de 1872, por razões que desconheço, passa a
pertencer ao então ministro de França em Lisboa, Abel Henri Armand. Actualmente
pertence à família Xavier de Lima, que obteve o imóvel na década de 1980.
Mais uma vez, encontramos
o nome de Raul Lino, arquitecto de renome, considerado um dos mais notáveis do
século XX, associado à reconstrução deste edifício. Existe uma história popular
que retrata um pedido singular feito pelo Conde D’Armand, ao arquitecto : que antes de começar a projectar a construção, o arquitecto
dormisse naquele espaço uma noite ao luar. O pedido foi aceite e daí resultou o
Palácio da Comenda.
Henrique das Neves, no
jornal Gazeta Setubalense, retratou o Conde D’Armand: “De chapéu de grandes
abas, uma vara na mão e botas altas é assim que encontramos o sr. Conde,
fidalgo de primorosa educação, percorrendo esta sua propriedade, que ele ama.
Considero-o um artista-filósofo. Nas horas de calor, enquanto descansa, tira da
algibeira o seu Virgílio e assim se deleita sub tegmine fagi,
imaginando ter diante de si, quando ergue o olhar do livro, as verdadeiras
paisagens que acaba de ver tracejadas naquelas églogas. Do sr. Conde de Armand
direi ainda de minha lavra: foi uma homenagem que prestou à classe dos
arquitectos portugueses, confiando a um deles a dispendiosa edificação da sua
nova casa da Comenda. Suspeito que não terá de arrepender-se. Algum português
talvez haja que, no seu caso, tivesse mandado vir um arquitecto francês”.
O Conde Armand, Abel
Henri George, faleceu no final de Abril de 1919, passando a propriedade para os
herdeiros: a esposa, Condessa de Armand, Françoise de Brantes, e cinco filhos.
Mais tarde, em 1952, o registo da propriedade foi feito em nome da Sociedade
Agrícola da Quinta da Comenda de Mouguelas, constituída pelos descendentes de
Abel George. Nos anos 80,como referi anteriormente, a Quinta da Comenda foi
adquirida por António Xavier de Lima, que, em conversa com o jornal O Setubalense, publicada na edição de
17 de Abril de 1989, disse: “Enquanto a Comenda for minha, nenhuma árvore será
derrubada”. Com efeito, uma das apostas levadas a cabo pelo Conde Armand no
início do século XX foi o da riqueza da flora, quer pela preservação das espécies
existentes, quer pela plantação de outras. Henrique das Neves chamava a atenção
no seu artigo para o parque que o Conde pretendia construir e para uma
plantação “de cerca de 1000 pés de palmeira” que tinha visto a cerca de um
quilómetro da residência da Comenda.
O Palácio é constituído
por 26 quartos e tem acesso privativo à praia. Sabendo das
movimentações para uma futura venda da propriedade, a Câmara Municipal de
Setúbal deu inicio, em Fevereiro deste ano, ao processo de classificação do
Palácio como imóvel de Interesse Nacional, tendo como objectivo evitar a sua
destruição e degradação, apesar da mesma já se encontrar em estado avançado.
Muitos dos painéis azulejares, da autoria do ceramista José António Jorge
Pinto, estão em estado de deterioração, por todo o edifício.
Deixo-vos, antes de mais e em jeito de complemento, este magnifico trabalho realizado pela "Spectro Filmagens", que inclui não apenas o Palácio, mas toda a sua envolvência!
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=5EDafULxJnk
Fonte: http://www.urbiliving.com/imovel/2755871/palacio-da-comenda-serra-da-arrabida-setubal-setubal