segunda-feira, 27 de julho de 2020

Casa do Fazendeiro


A casa do Fazendeiro, mais conhecida como a “Casa do Cavalinho”, é uma residência muito peculiar, cheia de detalhes que nos fazem viajar. Não pelo valor material que ainda possui, mas pelas memórias espalhadas por todos os cantos da casa que nos fazem imaginar a história que transportam.

Visitei esta casa, pela segunda vez, numa tentativa de recolher mais informações. Pelo que pude apurar, através de documentos que encontrei e de duas cartas e um postal, esta casa pertencia a um casal, António e Maria Eugénia. Ainda se encontrava no local uma licença para uso e porte de arma de caça, datada de 1968, com informações como a sua idade, 55 anos (nascido em 1913) e a sua profissão, agricultor. Se ainda fosse vivo, actualmente teria 107 anos. Juntamente a esta informação, descobri ainda em seu nome um cartão de produtor nacional de cereais. Sobre a Maria Eugénia apenas consegui perceber, através de inúmeros registos de análises, receitas médicas, radiografias torácicas e outros documentos ligados a cardiologia, que possivelmente teria algum problema de saúde.

  O casal tinha três filhos, Duarte, Ramiro e Maria Adelaide. Na casa ainda existia uma carta, escrita pelo genro, Júlio, cujo conteúdo se tornou muito esclarecedor. Júlio e Maria Adelaide, que tinham um filho, Herminio, emigraram para França, mais precisamente Paris, para poder futuramente ter uma vida mais desafogada em Portugal. O dinheiro que ganhavam, todos os meses, era investido nas fazendas e na casa que estava a ser contruída no seu pais natal. Júlio, ao longo da carta demonstra o seu desagrado por nunca se ter conseguido integrar em França e dos sacrifícios diários para poder economizar o máximo possível, para terem a oportunidade de voltar o mais brevemente possível. Refere ainda que ia fazer 50 anos e que esta experiência durava há quase 17. É perceptível a tristeza que sente no seu percurso, por não ter sido o que com certeza idealizou para a sua vida, mas também a perseverança de um casal que lutou para conseguir alcançar algo que não seria possível no seu pais, por falta de oportunidades. Herminio, filho único, juntou-se, para desagrado dos pais, a uma Francesa, com quem teve um filho. Julgavam ser um indicador de que nunca mais voltaria para Portugal, estabilizando a sua vida em França. E refere como isso os desmotivava a continuar, por ver que todos os seus esforços e privações teriam sido em vão e que o seu único filho não iria desfrutar do património que se estava a criar e acabaria por vender tudo. Existe ainda uma menção a Duarte, também filho de António e Maria Eugénia, que se encontrava, igualmente, em França, cuja vida lhe corria de feição e que por isso provavelmente seria o primeiro a regressar.

Já mais tarde descobri a certidão de nascimento do Herminio, que indicava que o mesmo nasceu a 9 de Junho de 1960, sendo possivelmente, nos dias de hoje, um dos proprietários desta residência. Ainda no local existia um documento que indicava actividade laboral numa empresa francesa desde Maio de 1979 a Junho de 1980.

Mas algo me intrigou nesta casa, que até hoje não consegui contextualizar. A fotografia encontrada numa das divisões, onde se destaca um jovem vestido com uma farda da primeira guerra mundial. A referência mais antiga remete a António, nascido em 1913, sendo que se torna impossível tratar-se do mesmo. Talvez o seu pai? Ou da Maria Eugénia? Fica a dúvida no ar, juntamente com alguns registos do local. Enjoy 😉

                 
























sábado, 13 de junho de 2020

Antiga Colónia de Férias

Hoje trago-vos a primeira e única Colónia de Férias que explorei até então. Inserida numa zona pacata, envolta em natureza, acabou também essa por ser a sua ruína. Em 2018, quando possivelmente estaria fechada, por motivos sazonais, foi vandalizada e saqueada, de tal forma que não deixou outra alternativa a não ser o seu encerramento definitivo. Encontrei vários registos (jornais, cartas de contas a pagar, etc), todos eles a partir da data de 2014, deduzindo assim que poderá ter sido o ano da sua inauguração, visto as instalações também aparentarem ser relativamente recentes. Esta colónia era constituída por um refeitório, cozinha e copa, várias camaratas, quartos individuais, duas salas de estar, sendo que numa delas temos acesso a uma pequena capela, uma piscina e todo um pátio exterior, com uma vista invejável. Infelizmente não consegui encontrar qualquer referência a este espaço, deixando-vos assim com alguns registos do mesmo.







                        






















quarta-feira, 10 de junho de 2020

Quinta da Fonte


A Quinta da Fonte remonta, com alguma incerteza, ao século XVI. Deduz-se que a sua origem derive dessa época visto as duas estruturas presentes, representando a entrada principal da quinta, terem parecenças sólidas com o trabalho desenvolvido por um arquitecto e escultor muito conceituado nesse período e igualmente pela aparência renascentista da sua composição. Estas especulações são fundadas por um outro arquitecto, Jorge S., que afirma que o escultor poderia ser apontado como o primeiro proprietário da Quinta, mencionando o ano de 1571. Foram também encontrados outros pormenores decorativos e arquitectónicos, com características semelhantes ao seu trabalho, como é o caso de dois tanques inseridos nesta propriedade, que estavam interligados no sistema de recolha, condução e rega do terreno.

                                                          Fig 1 - Entrada principal da Quinta


Fig 2 - Adega e um dos tanques referidos no texto


As referências mais significativas na progressão desta quinta encontram-se intimamente ligadas ao século XVIII, época esta de extrema relevância para a mesma, sendo que se tornou muito conceituada e reconhecida por membros importantes da sociedade, por produtos e serviços que nela eram desenvolvidos. Nesta altura a Quinta da Fonte pertencia a um Coronel, que ao aperceber-se da fama a que a quinta estava propensa, resolveu, em jeito de gratidão, oferecer alguns dos seus produtos à população. Ao longo da pesquisa, encontrei também uma alusão ao facto do seu pai poder ter sido o primeiro proprietário da Quinta. Mais uma vez, com a incerteza implícita.
A Quinta foi um dos lugares prediletos de uma princesa, que utilizava o terraço da entrada da quinta para poder observar a passagem dos touros e dos campinos que por ali passavam, deslocando-se para uma cidade próxima.
Podemos observar, numa das fontes, ainda que já extremamente deteriorada, uma alusão à mitologia grega, designada por duas figuras marinhas: um tritão e uma sereia. A outra fonte (tanque), que se encontra mais distanciada do edifício principal seria mais direccionada ao fornecimento de água para a rega dos terrenos circundantes. Curiosidade: Antigamente existia um leão de pedra e a água caia, através da sua boca, vinda de um poço oculto que se encontrava atrás do tanque.
Encontrei alguns registos fotográficos de 1932, recorrentes da última festa dada pela família Silva, que até então lá residia e que, pouco depois, acabaria por vendê-la a uma outra família de renome.

Fig 3 - Fonte que se encontra no pátio interior

            Fig 4 - Baile de Máscaras (bem como a fonte que se situava por detrás da adega e onde actualmente podemos observar                                                                                                                                             apenas a sua base)
Fig 5 - Baile de Máscaras

Em 1935 a família “Mendonça”, nome fictício, contratou um arquitecto, de grande relevância, para proceder a algumas alterações na Quinta. Uma delas foi a reedificação do edifício principal como casa de habitação, um conjunto de dependências como garagem e casa do motorista e outras de apoio agropecuário. Os tanques ainda hoje presentes nesta propriedade, eram utilizados nesta altura como piscinas para banhos. Alguns anos mais tarde, todo este património foi passado à filha do casal, “Maria de Albuquerque” e ao seu marido, que mantiveram, zelosamente, o que até então se tinha formado, tendo especial atenção ao meio envolvente e ao seu desenvolvimento, implantando, por exemplo, um sistema de rega, de gota a gota, técnica esta trazida de Israel pelos mesmos, no fim dos anos 50. Modificaram e acrescentaram, igualmente, características à habitação, que ainda hoje se poderão observar, como é o caso da integração de estores, para criar uma maior privacidade e uma marquise na sala de refeições. Com a morte de “Maria de Albuquerque”, a quinta acabou por ser vendida, pelos seus herdeiros. Ainda antes da sua venda, realizaram-se alguns eventos, datados de inícios do ano 2000, e então, posteriormente, terá sido oficializada a sua venda. Desde então a quinta encontra-se entregue ao abandono, sem qualquer género de intervenção. Curiosidade: Por detrás da Adega encontrava-se uma fonte com uma estátua de um menino no topo, hoje inexistente, restando apenas a base redonda, no meio do pátio.

                                                           Fig 6 - Família "Mendonça"

Muitos pormenores tiveram de ser ocultados, relativamente à importância e projecção desta quinta da região em que se encontra inserida, de forma a manter o seu anonimato, o que me entristece, porque é uma história que merecia de facto ser contada, não apenas pelas vivências que transporta ao longo do tempo e pelas famílias e realeza que lá passaram, mas também pelas referências arquitectónicas de excelência, sendo assim uma quinta muito rica e com intervenções de arquitectos de renome. Deixo-vos alguns registos fotográficos e um vídeo da minha autoria, sendo que todos os que foram apresentados até então foram retirados de um documento que me foi fornecido.