sábado, 13 de junho de 2020

Antiga Colónia de Férias

Hoje trago-vos a primeira e única Colónia de Férias que explorei até então. Inserida numa zona pacata, envolta em natureza, acabou também essa por ser a sua ruína. Em 2018, quando possivelmente estaria fechada, por motivos sazonais, foi vandalizada e saqueada, de tal forma que não deixou outra alternativa a não ser o seu encerramento definitivo. Encontrei vários registos (jornais, cartas de contas a pagar, etc), todos eles a partir da data de 2014, deduzindo assim que poderá ter sido o ano da sua inauguração, visto as instalações também aparentarem ser relativamente recentes. Esta colónia era constituída por um refeitório, cozinha e copa, várias camaratas, quartos individuais, duas salas de estar, sendo que numa delas temos acesso a uma pequena capela, uma piscina e todo um pátio exterior, com uma vista invejável. Infelizmente não consegui encontrar qualquer referência a este espaço, deixando-vos assim com alguns registos do mesmo.







                        






















quarta-feira, 10 de junho de 2020

Quinta da Fonte


A Quinta da Fonte remonta, com alguma incerteza, ao século XVI. Deduz-se que a sua origem derive dessa época visto as duas estruturas presentes, representando a entrada principal da quinta, terem parecenças sólidas com o trabalho desenvolvido por um arquitecto e escultor muito conceituado nesse período e igualmente pela aparência renascentista da sua composição. Estas especulações são fundadas por um outro arquitecto, Jorge S., que afirma que o escultor poderia ser apontado como o primeiro proprietário da Quinta, mencionando o ano de 1571. Foram também encontrados outros pormenores decorativos e arquitectónicos, com características semelhantes ao seu trabalho, como é o caso de dois tanques inseridos nesta propriedade, que estavam interligados no sistema de recolha, condução e rega do terreno.

                                                          Fig 1 - Entrada principal da Quinta


Fig 2 - Adega e um dos tanques referidos no texto


As referências mais significativas na progressão desta quinta encontram-se intimamente ligadas ao século XVIII, época esta de extrema relevância para a mesma, sendo que se tornou muito conceituada e reconhecida por membros importantes da sociedade, por produtos e serviços que nela eram desenvolvidos. Nesta altura a Quinta da Fonte pertencia a um Coronel, que ao aperceber-se da fama a que a quinta estava propensa, resolveu, em jeito de gratidão, oferecer alguns dos seus produtos à população. Ao longo da pesquisa, encontrei também uma alusão ao facto do seu pai poder ter sido o primeiro proprietário da Quinta. Mais uma vez, com a incerteza implícita.
A Quinta foi um dos lugares prediletos de uma princesa, que utilizava o terraço da entrada da quinta para poder observar a passagem dos touros e dos campinos que por ali passavam, deslocando-se para uma cidade próxima.
Podemos observar, numa das fontes, ainda que já extremamente deteriorada, uma alusão à mitologia grega, designada por duas figuras marinhas: um tritão e uma sereia. A outra fonte (tanque), que se encontra mais distanciada do edifício principal seria mais direccionada ao fornecimento de água para a rega dos terrenos circundantes. Curiosidade: Antigamente existia um leão de pedra e a água caia, através da sua boca, vinda de um poço oculto que se encontrava atrás do tanque.
Encontrei alguns registos fotográficos de 1932, recorrentes da última festa dada pela família Silva, que até então lá residia e que, pouco depois, acabaria por vendê-la a uma outra família de renome.

Fig 3 - Fonte que se encontra no pátio interior

            Fig 4 - Baile de Máscaras (bem como a fonte que se situava por detrás da adega e onde actualmente podemos observar                                                                                                                                             apenas a sua base)
Fig 5 - Baile de Máscaras

Em 1935 a família “Mendonça”, nome fictício, contratou um arquitecto, de grande relevância, para proceder a algumas alterações na Quinta. Uma delas foi a reedificação do edifício principal como casa de habitação, um conjunto de dependências como garagem e casa do motorista e outras de apoio agropecuário. Os tanques ainda hoje presentes nesta propriedade, eram utilizados nesta altura como piscinas para banhos. Alguns anos mais tarde, todo este património foi passado à filha do casal, “Maria de Albuquerque” e ao seu marido, que mantiveram, zelosamente, o que até então se tinha formado, tendo especial atenção ao meio envolvente e ao seu desenvolvimento, implantando, por exemplo, um sistema de rega, de gota a gota, técnica esta trazida de Israel pelos mesmos, no fim dos anos 50. Modificaram e acrescentaram, igualmente, características à habitação, que ainda hoje se poderão observar, como é o caso da integração de estores, para criar uma maior privacidade e uma marquise na sala de refeições. Com a morte de “Maria de Albuquerque”, a quinta acabou por ser vendida, pelos seus herdeiros. Ainda antes da sua venda, realizaram-se alguns eventos, datados de inícios do ano 2000, e então, posteriormente, terá sido oficializada a sua venda. Desde então a quinta encontra-se entregue ao abandono, sem qualquer género de intervenção. Curiosidade: Por detrás da Adega encontrava-se uma fonte com uma estátua de um menino no topo, hoje inexistente, restando apenas a base redonda, no meio do pátio.

                                                           Fig 6 - Família "Mendonça"

Muitos pormenores tiveram de ser ocultados, relativamente à importância e projecção desta quinta da região em que se encontra inserida, de forma a manter o seu anonimato, o que me entristece, porque é uma história que merecia de facto ser contada, não apenas pelas vivências que transporta ao longo do tempo e pelas famílias e realeza que lá passaram, mas também pelas referências arquitectónicas de excelência, sendo assim uma quinta muito rica e com intervenções de arquitectos de renome. Deixo-vos alguns registos fotográficos e um vídeo da minha autoria, sendo que todos os que foram apresentados até então foram retirados de um documento que me foi fornecido.





















quarta-feira, 3 de junho de 2020

Mosteiro de Santa Maria de Seiça

O Mosteiro de Santa Maria de Seiça foi construído no reinado de D. Afonso Henriques. A data da sua edificação não é clara, de forma que se deduz ter sido por volta de 1162, com base na referência mais antiga encontrada relativamente a este mosteiro. Em 1175 o mosteiro passou para a Ordem de Cister, albergando assim uma comunidade de monges brancos, assim designados devido à cor do hábito. Em 1195, época em que as comunidades cistercienses diminuíram, o Mosteiro foi doado, por D. Sancho I ao abade de Alcobaça, D. Mendo.

Em 1555, devido a incessantes desentendimentos com a casa-mãe de Alcobaça, o mosteiro foi abolido por D. João III, direccionando assim todos os seus bens à Ordem de Cristo, para a construção do novo mosteiro em Carnide. Cinco anos depois, em 1560, na regência de D. Sebastião, procede-se à anulação da extinção do Mosteiro de Santa Clara de Seiça, retornando assim à posse da Abadia de Santa Maria de Alcobaça. 7 anos mais tarde, em 1567, foi criada a Congregação de Santa Maria de Alcobaça, que veio dar inicio à reconstrução e reformulação dos seus mosteiros. Assim sendo, deu-se inicio, à data de 11 de Julho de 1572, à construção de um mosteiro totalmente novo. O Mosteiro passou a ser um centro de estudos filosóficos da ordem, por se encontrar próximo do Colégio de Santa Cruz de Coimbra.

Em 1834 foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas em Portugal, entregando assim, à semelhança de muitos outros, o mosteiro de Santa Maria de Seiça ao abandono. Com a expulsão dos monges de Cister, a edificação foi apropriada pelo Estado. Em 1861, a Igreja e a Sacristia do mosteiro foram entregues à Junta da Paróquia de Nossa Senhora do Ó do Paião. Já na sua posse, em 1871, mandou demolir a sacristia do lado Sul e o gigante de pedra do Mosteiro de Seiça, com o intuito de utilizar essa pedra para tapar o cemitério e o adro da Igreja Matriz do Paião. Em 1895 a Junta da Paróquia vendeu o Mosteiro a particulares. Desconheço a sua utilização neste período de tempo, até 1911, em que foi novamente vendido, a Joaquim dos Santos Carriço. A igreja foi transformada numa unidade industrial de descasque de arroz que perdurou até 1976. Ainda hoje se conseguem perceber algumas características dessa transformação.

Em 2002 o Mosteiro de Santa Maria de Seiça foi classificado como Imóvel de Interesse Público e em 2004 oficializou-se a compra do mesmo por parte da Câmara Municipal da Figueira da Foz. Encontra-se em total estado de abandono, desde o término da unidade industrial de descasque de arroz. Hoje o que vemos é um monumento e uma antiga unidade industrial em ruínas. O Convento outrora ocupado monges e frades, é hoje habitação exclusiva de várias famílias de cegonhas.

Segundo uma noticia do Jornal da Figueira, de 15 de Agosto de 2018: “Há mais de 500 anos que, no 15 de Agosto, Seiça (freguesia do Paião) recebe a chamada «Feira do Ano». Embora não com a dimensão de outrora e apesar do estado de ruína do Mosteiro, aquele vale encantado volta a ganhar vida com diversos feirantes e é sempre grande a romaria à Capela, onde há ainda a tradicional balança para pesar bebés e crianças, para ofertar dinheiro ou cereais pelo peso da criança, pedindo por saúde. As lendas de Seiça voltam a circular de boca em boca neste dia, numa transmissão de gerações, e este continua a ser um ponto de encontro de locais e amigos emigrados, num ambiente de grande convívio e camaradagem. A tudo isto, este ano junta-se um outro ingrediente, com a SMS – Associação dos Amigos do Convento de Santa Maria de Seiça a aproveitar para lançar o livro «O Mosteiro de Seiça e a fábrica de descasque de arroz», da autoria de Isabel Sousa. «Mais uma obra demonstrando que Seiça é feita de vários contextos e existem vários pontos a explorar e conteúdos não faltam, desde a história (incerta) às inúmeras estórias. Este trabalho é sobre a fábrica de descasque de arroz e não só. Para alguns, trata-se de um período menos bom. Para outros, trás ótimas recordações de muito trabalho, alguma prosperidade e mesmo memórias de infância, crianças a brincar, Feira d’Ano em outros moldes. O passado já lá vai e no presente as alterações e descaracterizações do mosteiro em prol da fábrica colocam hoje em causa o conseguirmos a classificação enquanto monumento nacional. Por outro lado, havia todo um património de arqueologia industrial que a autora registou em fotografias e que também se reveste de interesse histórico. Passado que se cruz com a actualidade», assim frisa a SMS […]  «Este mosteiro em ruínas encerra em si um manancial riquíssimo e informação histórica (propriamente dita) e de arqueologia industrial. Muitos séculos volvidos após a sua construção e funcionamento como mosteiro ligado à Ordem de Cister, após conturbadas reformas politicas emanadas em Governos Liberais, este belo mosteiro acaba por ser adquirido, no final do séc. XIX, por Joaquim dos Santos Carriço, que implanta neste edifício uma barulhenta fábrica de descasque de arroz. ( in «O Mosteiro de Seiça e a fábrica de descasque de arroz»)”

Por fim, deixo-vos com os registos fotográficos e um vídeo aéreo, retirado do youtube, do canal “Descobrindo Portugal de Norte a Sul”.