A casa do Fazendeiro, mais conhecida como a “Casa do
Cavalinho”, é uma residência muito peculiar, cheia de detalhes que nos fazem
viajar. Não pelo valor material que ainda possui, mas pelas memórias espalhadas
por todos os cantos da casa que nos fazem imaginar a história que transportam.
Visitei esta casa, pela segunda vez, numa tentativa de recolher
mais informações. Pelo que pude apurar, através de documentos que encontrei e
de duas cartas e um postal, esta casa pertencia a um casal, António e Maria
Eugénia. Ainda se encontrava no local uma licença para uso e porte de arma de
caça, datada de 1968, com informações como a sua idade, 55 anos (nascido em
1913) e a sua profissão, agricultor. Se ainda fosse vivo, actualmente teria 107
anos. Juntamente a esta informação, descobri ainda em seu nome um cartão de
produtor nacional de cereais. Sobre a Maria Eugénia apenas consegui perceber,
através de inúmeros registos de análises, receitas médicas, radiografias torácicas
e outros documentos ligados a cardiologia, que possivelmente teria algum
problema de saúde.
O casal tinha três filhos, Duarte, Ramiro e
Maria Adelaide. Na casa ainda existia uma carta, escrita pelo genro, Júlio, cujo
conteúdo se tornou muito esclarecedor. Júlio e Maria Adelaide, que tinham um
filho, Herminio, emigraram para França, mais precisamente Paris, para poder futuramente
ter uma vida mais desafogada em Portugal. O dinheiro que ganhavam, todos os
meses, era investido nas fazendas e na casa que estava a ser contruída no seu
pais natal. Júlio, ao longo da carta demonstra o seu desagrado por nunca se ter
conseguido integrar em França e dos sacrifícios diários para poder economizar o
máximo possível, para terem a oportunidade de voltar o mais brevemente
possível. Refere ainda que ia fazer 50 anos e que esta experiência durava há quase 17. É perceptível a tristeza que sente no seu percurso, por não
ter sido o que com certeza idealizou para a sua vida, mas também a perseverança
de um casal que lutou para conseguir alcançar algo que não seria possível no
seu pais, por falta de oportunidades. Herminio, filho único, juntou-se, para
desagrado dos pais, a uma Francesa, com quem teve um filho. Julgavam ser um
indicador de que nunca mais voltaria para Portugal, estabilizando a sua vida em
França. E refere como isso os desmotivava a continuar, por ver que todos os
seus esforços e privações teriam sido em vão e que o seu único filho não iria
desfrutar do património que se estava a criar e acabaria por vender tudo. Existe
ainda uma menção a Duarte, também filho de António e Maria Eugénia, que se
encontrava, igualmente, em França, cuja vida lhe corria de feição e que por
isso provavelmente seria o primeiro a regressar.
Já mais tarde descobri a certidão de nascimento do Herminio,
que indicava que o mesmo nasceu a 9 de Junho de 1960, sendo possivelmente, nos
dias de hoje, um dos proprietários desta residência. Ainda no local existia um
documento que indicava actividade laboral numa empresa francesa desde Maio de 1979
a Junho de 1980.
Mas algo me intrigou nesta casa, que até hoje não consegui
contextualizar. A fotografia encontrada numa das divisões, onde se destaca um jovem
vestido com uma farda da primeira guerra mundial. A referência mais antiga remete
a António, nascido em 1913, sendo que se torna impossível tratar-se do mesmo.
Talvez o seu pai? Ou da Maria Eugénia? Fica a dúvida no ar, juntamente com
alguns registos do local. Enjoy 😉