quarta-feira, 10 de junho de 2020

Quinta da Fonte


A Quinta da Fonte remonta, com alguma incerteza, ao século XVI. Deduz-se que a sua origem derive dessa época visto as duas estruturas presentes, representando a entrada principal da quinta, terem parecenças sólidas com o trabalho desenvolvido por um arquitecto e escultor muito conceituado nesse período e igualmente pela aparência renascentista da sua composição. Estas especulações são fundadas por um outro arquitecto, Jorge S., que afirma que o escultor poderia ser apontado como o primeiro proprietário da Quinta, mencionando o ano de 1571. Foram também encontrados outros pormenores decorativos e arquitectónicos, com características semelhantes ao seu trabalho, como é o caso de dois tanques inseridos nesta propriedade, que estavam interligados no sistema de recolha, condução e rega do terreno.

                                                          Fig 1 - Entrada principal da Quinta


Fig 2 - Adega e um dos tanques referidos no texto


As referências mais significativas na progressão desta quinta encontram-se intimamente ligadas ao século XVIII, época esta de extrema relevância para a mesma, sendo que se tornou muito conceituada e reconhecida por membros importantes da sociedade, por produtos e serviços que nela eram desenvolvidos. Nesta altura a Quinta da Fonte pertencia a um Coronel, que ao aperceber-se da fama a que a quinta estava propensa, resolveu, em jeito de gratidão, oferecer alguns dos seus produtos à população. Ao longo da pesquisa, encontrei também uma alusão ao facto do seu pai poder ter sido o primeiro proprietário da Quinta. Mais uma vez, com a incerteza implícita.
A Quinta foi um dos lugares prediletos de uma princesa, que utilizava o terraço da entrada da quinta para poder observar a passagem dos touros e dos campinos que por ali passavam, deslocando-se para uma cidade próxima.
Podemos observar, numa das fontes, ainda que já extremamente deteriorada, uma alusão à mitologia grega, designada por duas figuras marinhas: um tritão e uma sereia. A outra fonte (tanque), que se encontra mais distanciada do edifício principal seria mais direccionada ao fornecimento de água para a rega dos terrenos circundantes. Curiosidade: Antigamente existia um leão de pedra e a água caia, através da sua boca, vinda de um poço oculto que se encontrava atrás do tanque.
Encontrei alguns registos fotográficos de 1932, recorrentes da última festa dada pela família Silva, que até então lá residia e que, pouco depois, acabaria por vendê-la a uma outra família de renome.

Fig 3 - Fonte que se encontra no pátio interior

            Fig 4 - Baile de Máscaras (bem como a fonte que se situava por detrás da adega e onde actualmente podemos observar                                                                                                                                             apenas a sua base)
Fig 5 - Baile de Máscaras

Em 1935 a família “Mendonça”, nome fictício, contratou um arquitecto, de grande relevância, para proceder a algumas alterações na Quinta. Uma delas foi a reedificação do edifício principal como casa de habitação, um conjunto de dependências como garagem e casa do motorista e outras de apoio agropecuário. Os tanques ainda hoje presentes nesta propriedade, eram utilizados nesta altura como piscinas para banhos. Alguns anos mais tarde, todo este património foi passado à filha do casal, “Maria de Albuquerque” e ao seu marido, que mantiveram, zelosamente, o que até então se tinha formado, tendo especial atenção ao meio envolvente e ao seu desenvolvimento, implantando, por exemplo, um sistema de rega, de gota a gota, técnica esta trazida de Israel pelos mesmos, no fim dos anos 50. Modificaram e acrescentaram, igualmente, características à habitação, que ainda hoje se poderão observar, como é o caso da integração de estores, para criar uma maior privacidade e uma marquise na sala de refeições. Com a morte de “Maria de Albuquerque”, a quinta acabou por ser vendida, pelos seus herdeiros. Ainda antes da sua venda, realizaram-se alguns eventos, datados de inícios do ano 2000, e então, posteriormente, terá sido oficializada a sua venda. Desde então a quinta encontra-se entregue ao abandono, sem qualquer género de intervenção. Curiosidade: Por detrás da Adega encontrava-se uma fonte com uma estátua de um menino no topo, hoje inexistente, restando apenas a base redonda, no meio do pátio.

                                                           Fig 6 - Família "Mendonça"

Muitos pormenores tiveram de ser ocultados, relativamente à importância e projecção desta quinta da região em que se encontra inserida, de forma a manter o seu anonimato, o que me entristece, porque é uma história que merecia de facto ser contada, não apenas pelas vivências que transporta ao longo do tempo e pelas famílias e realeza que lá passaram, mas também pelas referências arquitectónicas de excelência, sendo assim uma quinta muito rica e com intervenções de arquitectos de renome. Deixo-vos alguns registos fotográficos e um vídeo da minha autoria, sendo que todos os que foram apresentados até então foram retirados de um documento que me foi fornecido.





















1 comentário:

  1. Excelente trabalho!!!

    Realmente é uma pena que muitos dos que possam encontrar estas preciosidades não vejam e sintam a Arte que existe em cada pormenor!

    Existem histórias que merecem ser partilhadas e jamais esquecidas. Acho que esse seria o maior tributo aos que atravessaram as próprias fronteiras do tempo para que os tempos de hoje fossem possíveis...

    Infelizmente quem não merece são muitos de nós.

    Ainda assim, Parabéns pelo teu trabalho e respeito!

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