A Quinta da Fonte remonta, com alguma incerteza, ao século XVI.
Deduz-se que a sua origem derive dessa época visto as duas estruturas
presentes, representando a entrada principal da quinta, terem parecenças sólidas
com o trabalho desenvolvido por um arquitecto e escultor muito conceituado nesse
período e igualmente pela aparência renascentista da sua composição. Estas
especulações são fundadas por um outro arquitecto, Jorge S., que afirma que o
escultor poderia ser apontado como o primeiro proprietário da Quinta, mencionando
o ano de 1571. Foram também encontrados outros pormenores decorativos e
arquitectónicos, com características semelhantes ao seu trabalho, como é o caso de dois tanques inseridos nesta
propriedade, que estavam interligados no sistema de recolha, condução e rega do
terreno.
Fig 1 - Entrada principal da Quinta
Fig 2 - Adega e um dos tanques referidos no texto
As referências mais significativas na progressão desta
quinta encontram-se intimamente ligadas ao século XVIII, época esta de extrema
relevância para a mesma, sendo que se tornou muito conceituada e reconhecida
por membros importantes da sociedade, por produtos e serviços que nela eram
desenvolvidos. Nesta altura a Quinta da Fonte pertencia a um Coronel, que ao aperceber-se
da fama a que a quinta estava propensa, resolveu, em jeito de gratidão, oferecer
alguns dos seus produtos à população. Ao longo da pesquisa, encontrei também
uma alusão ao facto do seu pai poder ter sido o primeiro proprietário da
Quinta. Mais uma vez, com a incerteza implícita.
A Quinta foi um dos lugares prediletos de uma princesa, que
utilizava o terraço da entrada da quinta para poder observar a passagem dos touros
e dos campinos que por ali passavam, deslocando-se para uma cidade próxima.
Podemos observar, numa das fontes, ainda que já extremamente deteriorada,
uma alusão à mitologia grega, designada por duas figuras marinhas: um tritão e
uma sereia. A outra fonte (tanque), que se encontra mais distanciada do edifício
principal seria mais direccionada ao fornecimento de água para a rega dos
terrenos circundantes. Curiosidade: Antigamente existia um leão de pedra e a
água caia, através da sua boca, vinda de um poço oculto que se encontrava atrás
do tanque.
Encontrei alguns registos fotográficos de 1932, recorrentes da
última festa dada pela família Silva, que até então lá residia e que, pouco
depois, acabaria por vendê-la a uma outra família de renome.
Fig 3 - Fonte que se encontra no pátio interior
Fig 4 - Baile de Máscaras (bem como a fonte que se situava por detrás da adega e onde actualmente podemos observar apenas a sua base)
Fig 5 - Baile de Máscaras
Em 1935 a família “Mendonça”, nome fictício, contratou um
arquitecto, de grande relevância, para proceder a algumas alterações na Quinta.
Uma delas foi a reedificação do edifício principal como casa de habitação, um
conjunto de dependências como garagem e casa do motorista e outras de apoio
agropecuário. Os tanques ainda hoje presentes nesta propriedade, eram
utilizados nesta altura como piscinas para banhos. Alguns anos mais tarde, todo
este património foi passado à filha do casal, “Maria de Albuquerque” e ao seu marido,
que mantiveram, zelosamente, o que até então se tinha formado, tendo especial
atenção ao meio envolvente e ao seu desenvolvimento, implantando, por exemplo, um
sistema de rega, de gota a gota, técnica esta trazida de Israel pelos mesmos, no
fim dos anos 50. Modificaram e acrescentaram, igualmente, características à habitação,
que ainda hoje se poderão observar, como é o caso da integração de estores,
para criar uma maior privacidade e uma marquise na sala de refeições. Com a
morte de “Maria de Albuquerque”, a quinta acabou por ser vendida, pelos seus herdeiros.
Ainda antes da sua venda, realizaram-se alguns eventos, datados de inícios do
ano 2000, e então, posteriormente, terá sido oficializada a sua venda. Desde
então a quinta encontra-se entregue ao abandono, sem qualquer género de intervenção.
Curiosidade: Por detrás da Adega encontrava-se uma fonte com uma estátua de um
menino no topo, hoje inexistente, restando apenas a base redonda, no meio do
pátio.
Fig 6 - Família "Mendonça"
Muitos pormenores tiveram de ser ocultados, relativamente à importância
e projecção desta quinta da região em que se encontra inserida, de forma a
manter o seu anonimato, o que me entristece, porque é uma história que merecia
de facto ser contada, não apenas pelas vivências que transporta ao longo do
tempo e pelas famílias e realeza que lá passaram, mas também pelas referências
arquitectónicas de excelência, sendo assim uma quinta muito rica e com
intervenções de arquitectos de renome. Deixo-vos alguns registos fotográficos e um vídeo da minha autoria, sendo que todos os que foram apresentados até então foram
retirados de um documento que me foi fornecido.
Excelente trabalho!!!
ResponderEliminarRealmente é uma pena que muitos dos que possam encontrar estas preciosidades não vejam e sintam a Arte que existe em cada pormenor!
Existem histórias que merecem ser partilhadas e jamais esquecidas. Acho que esse seria o maior tributo aos que atravessaram as próprias fronteiras do tempo para que os tempos de hoje fossem possíveis...
Infelizmente quem não merece são muitos de nós.
Ainda assim, Parabéns pelo teu trabalho e respeito!