sábado, 4 de abril de 2015

Aldeamento Vale Navio


Numa visita recente ao Algarve e com um roteiro especialmente preparado, lá embarquei numa expedição via Vale Navio. Sabia da existência de uma urbanização abandonada, mas nunca imaginei encontrá-la em tamanho estado de degradação. Assoberbada não só pelo tempo, mas igualmente pela mão humana, é palco de inúmeras práticas de airsoft e pelo que observei, abrigo para almas menos afortunadas. Já pouco de belo resta neste espaço que outrora foi um dos primeiros e maiores empreendimentos de "time-sharing" nesta região.




O Aldeamento Vale Navio, detentor de 300 apartamentos e 95 moradias, foi projectado pelo arquitecto Ramos Chaves, em 1972, com o intuito de explorar um conceito com nuances ambientalistas, unificando a natureza e o turismo.




Entre 1985 e 1992, as transacções comerciais de Vale Navio atingiram o pique, sendo ditada como a época da "galinha dos ovos de ouro". A comercialização rendeu cerca de 45 milhões de euros, mas nem 14 milhões chegaram a entrar nas contas da empresa. A restante quantia, movimentada através de empresas "off-shore", desapareceu em comissões de venda e promoção, não entrando sequer em Portugal. Por todos estes motivos e mais alguns, que sempre escapam, mesmo aos olhares mais atentos, este empreendimento estaria, já nesta época, confinado a um futuro pouco risonho. 



Em 1984, o conceito que visava a preservação do meio envolvente passou para segundo plano, tendo sido tomada como prioridade a rentabilização do negócio. O projecto alterou-se, determinando a construção de mais 16 vivendas, dois blocos de apartamentos e um aparthotel, ocupando assim a dita "zona verde" , prevista inicialmente.




Já em 2003 o aldeamento se encontrava entregue ao abandono - janelas e portas arrombadas, o interior das casas vandalizado, jardins maltratados, piscinas sem água. No entanto, nesse mesmo ano, estava a ser construído um aparthotel. "A construção foi licenciada com base num alvará de 1989, mas o edifício está longe do projectado para aquele lugar, já em 1972 - é muito maior. Ao lado, no lote 102, beneficiando também de um alvará, datado de 1984, está previsto um aparthotel, com 124 apartamentos. Estas parcelas de terrenos, alvo dos apetites imobiliários imediatos, tinham sido vendidas antes do início do processo de falência do Vale Navio" (Público, 2003)




Ramos Chaves, o arquitecto que visionou o Vale Navio, nenhuma intervenção teve nesta última fase, afirmando ser "uma tristeza" o desenrolar do processo urbanístico do aldeamento.



   

Sem comentários:

Enviar um comentário