quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Hotel Netto

Como não poderia deixar de ser, e há muito já faltava, deixo uma marca do que foi um dia, um dos hoteis mais afamados de Sintra. Situado em pleno centro histórico da Vila de Sintra, encontra-se o edifício do antigo Hotel Netto, construído no século XIX, em avançado estado de degradação, consequência de décadas de abandono. Existem registos de que, a 3 de Setembro de 1989, o hotel ainda estava activo, devido a uma noticia publicada no jornal correio de Cintra, que dá conta de que ali terá ocorrido um incêncio  “(…) devido ao descuido de uma criada que engomava. Foi extinto pelo pessoal com o auxilio dos bombeiros…” (Azevedo, 1998, p.355). Vim a descobrir que, numa publicação periódica sintrense (jornal O Grilo), existe uma referência, de 1925, a dois proprietários do hotel netto - Romão Garcia Vinhas e José Lopes Alves, os dois de origem galega, sendo que o segundo tomou posse do imóvel por falecimento do primeiro.

Sabe-se, também, que o Hotel Netto foi, em tempos áureos, o local de excelência do escritor Ferreira de Castro para explorar os seus momentos de produção literária, local esse que escolheu residir durante 12 anos.





A 1 de Agosto de 1937, o Jornal de Sintra publicou uma noticia relativamente ao Hotel Netto, elogiando o conforto que apresentava nessa altura, após mudança de gerência "Nestes melhoramentos andou o fino gosto do arquitecto, nosso amigo Sr. Norte Júnior que mais uma vez não deixou os seus honrosos créditos por mãos alheias". O cronista deu continuação ao seu encómio: "A par das dezenas e dezenas de quartos e dos chics «appartments», de janelas rasgadas olhando a luxuriante Serra de Sintra, os prados e vergeis, o mar e a maneira bizarra das povoações limítrofes e por aí fora até ao Convento de Mafra, tudo no Hotel Netto constitui o que se chama uma dulcificante paragem do bem-estar e da saúde que muitos sanatórios portugueses invejariam".

Actualmente, e após concurso público, o imóvel está entregue à Câmara Municipal de Sintra, desde o ano passado. A CMS exerceu o direito de preferência na aquisição do Hotel Netto (por 600 mil euros), impedindo a Parques de Sintra - Monte da Lua, sociedade onde a câmara detém 15% do capital, da compra do mesmo, já há algum tempo planeada. Segundo Basílio Horta, actual Presidente da CMS, em comentários à Agência Lusa, afirma que "A aquisição do Hotel Netto revela que a Câmara Municipal vai assumir as suas responsabilidades na requalificação do centro histórico da vila de Sintra e em todo o concelho". Diz ainda que o projecto vai assentar num conceito inovador na vila, que possui a notória carência de unidades hoteleiras. "Será um Hostel. Vamos oferecer quartos familiares de seis a oito pessoas, quartos individuais e um conjunto de seis suites do mais luxuoso que há". O autarca acrescenta ainda que, pelo sitio onde está, vai oferecer "alta qualidade, mas com preços que não atinjam os valores", deste nível de unidades.

Resta saber o porquê de ainda não se verem quaisquer indícios de possíveis obras no imóvel. Encontrei um comentário num blog a afirmar que ainda não se teria dado inicio devido aos custos elevados para manter a fachada do hotel. Mas isso não deveria ter sido estudado e avaliado de antemão? Ou queriam/querem
repetir o que fizeram com o Hotel Nunes? Mandar mais um marco abaixo e construir algo que descaracterize o meio?


Foto da chegada ao Hotel Netto, em 1942, de refugiados judeus que Portugal recebeu durante a 2ª Guerra, e distribuiu por Sintra, Estoril, Cascais, Caldas da Rainha, Buçaco, Curia, Foz do Arelho e Figueira da Foz/.Foto blog Beijo da terra













9 comentários:

  1. Bom dia
    Estranho essa referencia a um incêndio em 1998 em que menciona que o hotel ainda estava funcionando porque em 1979-80 estive um período de tempo fora de casa e fui lá dormir umas noites, estando o hotel já ao abandono e com vários "ocupas" frequentando o lugar.

    Carlos Machado

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  2. A referência é de que o incêndio se deu em 1989, mas ainda assim não coincide com a sua informação. Agora deixou-me intrigada..irei ver a situação a fundo, até porque não quero estar a dar falsos testemunhos

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  3. Bom local onde vive e morei com varias famílias oriundas das províncias ultramarinas desde o ano de 1976 até ao ano de 1983,tendo sido todos realojados pelo concelho de Sintra e selando a porta principal pela C.M.Sintra por precaução de derrocada...

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  4. Romão Garcia Vinhas, antigo proprietário do Hotel Netto, era galego, natural da Corunha. Faleceu em 19 de maio de 1907, e está sepultado em Sintra. O seu óbito conta do Livro dos Óbitos de 1907, fls 6.
    Manuela Poitout

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    1. Grata pela informação, Manuela! Se quiser acrescentar mais algum dado sobre o Hotel, esteja à vontade :)

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  5. Desculpe só agora responder, mas não voltei a visitar o blogue, foi hoje.
    Romão Garcia Vinhas esteve ligado a uma pessoa da família, daí eu possuir o documento do seu óbito. Ouvi falar do hotel, e haverá, entre os objetos de família, alguns que tenham vindo de lá, quando Garcia Vinhas morreu e o hotel passou para outros donos, mas não tenho fotos nem documentos.

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