quarta-feira, 3 de junho de 2020

Mosteiro de Santa Maria de Seiça

O Mosteiro de Santa Maria de Seiça foi construído no reinado de D. Afonso Henriques. A data da sua edificação não é clara, de forma que se deduz ter sido por volta de 1162, com base na referência mais antiga encontrada relativamente a este mosteiro. Em 1175 o mosteiro passou para a Ordem de Cister, albergando assim uma comunidade de monges brancos, assim designados devido à cor do hábito. Em 1195, época em que as comunidades cistercienses diminuíram, o Mosteiro foi doado, por D. Sancho I ao abade de Alcobaça, D. Mendo.

Em 1555, devido a incessantes desentendimentos com a casa-mãe de Alcobaça, o mosteiro foi abolido por D. João III, direccionando assim todos os seus bens à Ordem de Cristo, para a construção do novo mosteiro em Carnide. Cinco anos depois, em 1560, na regência de D. Sebastião, procede-se à anulação da extinção do Mosteiro de Santa Clara de Seiça, retornando assim à posse da Abadia de Santa Maria de Alcobaça. 7 anos mais tarde, em 1567, foi criada a Congregação de Santa Maria de Alcobaça, que veio dar inicio à reconstrução e reformulação dos seus mosteiros. Assim sendo, deu-se inicio, à data de 11 de Julho de 1572, à construção de um mosteiro totalmente novo. O Mosteiro passou a ser um centro de estudos filosóficos da ordem, por se encontrar próximo do Colégio de Santa Cruz de Coimbra.

Em 1834 foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas em Portugal, entregando assim, à semelhança de muitos outros, o mosteiro de Santa Maria de Seiça ao abandono. Com a expulsão dos monges de Cister, a edificação foi apropriada pelo Estado. Em 1861, a Igreja e a Sacristia do mosteiro foram entregues à Junta da Paróquia de Nossa Senhora do Ó do Paião. Já na sua posse, em 1871, mandou demolir a sacristia do lado Sul e o gigante de pedra do Mosteiro de Seiça, com o intuito de utilizar essa pedra para tapar o cemitério e o adro da Igreja Matriz do Paião. Em 1895 a Junta da Paróquia vendeu o Mosteiro a particulares. Desconheço a sua utilização neste período de tempo, até 1911, em que foi novamente vendido, a Joaquim dos Santos Carriço. A igreja foi transformada numa unidade industrial de descasque de arroz que perdurou até 1976. Ainda hoje se conseguem perceber algumas características dessa transformação.

Em 2002 o Mosteiro de Santa Maria de Seiça foi classificado como Imóvel de Interesse Público e em 2004 oficializou-se a compra do mesmo por parte da Câmara Municipal da Figueira da Foz. Encontra-se em total estado de abandono, desde o término da unidade industrial de descasque de arroz. Hoje o que vemos é um monumento e uma antiga unidade industrial em ruínas. O Convento outrora ocupado monges e frades, é hoje habitação exclusiva de várias famílias de cegonhas.

Segundo uma noticia do Jornal da Figueira, de 15 de Agosto de 2018: “Há mais de 500 anos que, no 15 de Agosto, Seiça (freguesia do Paião) recebe a chamada «Feira do Ano». Embora não com a dimensão de outrora e apesar do estado de ruína do Mosteiro, aquele vale encantado volta a ganhar vida com diversos feirantes e é sempre grande a romaria à Capela, onde há ainda a tradicional balança para pesar bebés e crianças, para ofertar dinheiro ou cereais pelo peso da criança, pedindo por saúde. As lendas de Seiça voltam a circular de boca em boca neste dia, numa transmissão de gerações, e este continua a ser um ponto de encontro de locais e amigos emigrados, num ambiente de grande convívio e camaradagem. A tudo isto, este ano junta-se um outro ingrediente, com a SMS – Associação dos Amigos do Convento de Santa Maria de Seiça a aproveitar para lançar o livro «O Mosteiro de Seiça e a fábrica de descasque de arroz», da autoria de Isabel Sousa. «Mais uma obra demonstrando que Seiça é feita de vários contextos e existem vários pontos a explorar e conteúdos não faltam, desde a história (incerta) às inúmeras estórias. Este trabalho é sobre a fábrica de descasque de arroz e não só. Para alguns, trata-se de um período menos bom. Para outros, trás ótimas recordações de muito trabalho, alguma prosperidade e mesmo memórias de infância, crianças a brincar, Feira d’Ano em outros moldes. O passado já lá vai e no presente as alterações e descaracterizações do mosteiro em prol da fábrica colocam hoje em causa o conseguirmos a classificação enquanto monumento nacional. Por outro lado, havia todo um património de arqueologia industrial que a autora registou em fotografias e que também se reveste de interesse histórico. Passado que se cruz com a actualidade», assim frisa a SMS […]  «Este mosteiro em ruínas encerra em si um manancial riquíssimo e informação histórica (propriamente dita) e de arqueologia industrial. Muitos séculos volvidos após a sua construção e funcionamento como mosteiro ligado à Ordem de Cister, após conturbadas reformas politicas emanadas em Governos Liberais, este belo mosteiro acaba por ser adquirido, no final do séc. XIX, por Joaquim dos Santos Carriço, que implanta neste edifício uma barulhenta fábrica de descasque de arroz. ( in «O Mosteiro de Seiça e a fábrica de descasque de arroz»)”

Por fim, deixo-vos com os registos fotográficos e um vídeo aéreo, retirado do youtube, do canal “Descobrindo Portugal de Norte a Sul”.


















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